Caroline Alves de Almeida Nascimento foi acometida por uma insuficiência renal crônica assim que completou 18 anos. E nesta fase da adolescência despertou, também, o maior sonho de sua vida: o desejo em ser mãe.

Assim que recebeu o diagnóstico, iniciou as sessões de hemodiálise. Foram quatro anos realizando o tratamento, durante três vezes por semana, em um total de 624 sessões, enquanto aguardava na fila de espera por um doador compatível. Familiares e amigos iniciaram a corrida contra o tempo para ajudá-la, mas ninguém tinha o rim compatível.

No dia 04/06/2011 chegou a notícia mais esperada: ela recebeu a ligação do Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, para realizar o transplante de rim. Foram 30 dias de internação juntamente com uma biópsia que mostrou uma “quase rejeição do rim”, o que fez a equipe médica alterar as medicações para que o órgão transplantado voltasse a funcionar. E neste mesmo dia, ao questionar a equipe médica quando poderia engravidar e realizar o maior sonho da vida, teve como retorno que precisaria esperar três anos – tempo necessário para o novo órgão se readaptar.

Em meio às dores, um quadro de depressão, ansiedade e incertezas no leito de internação, Carol foi surpreendida por um pedido de noivado, o que a deixou comovida e com a certeza, ainda mais, que um dia formaria uma família.

No dia 19/10/13 ela foi pedida em casamento e, neste período, precisou ser internada novamente por conta de uma superbactéria, além de desenvolver diabetes. Fez todo o tratamento necessário, recebeu alta e, antes de decidir engravidar, passou em consulta com o nefrologista do Santa Marcelina para perguntar se poderia finalmente ser mãe. Precisou fazer uma biópsia no rim e o resultado foi animador: o órgão estava funcionando bem e precisou mudar os medicamentos para entrar na fase de adaptação para a gestação.

Neste processe de troca de medicações foi novamente surpreendida: a tireoide estava muito alta e precisou passar por um procedimento cirúrgico para a retirada da paratireoide (glândula afetada que estava produzindo mais hormônio do que o considerado normal). Com esta cirurgia, ela precisou ficar mais um tempo sem poder engravidar, devido a mudança de remédios, que eram fundamentais ao bom funcionamento do rim. E, neste período, ela descobriu que estava grávida. A sensação de realizar o sonho de ser mãe, misturada ao medo e à insegurança causados pelos medicamentos que precisava tomar para o rim não prejudicar o bebê, vieram à tona. Carol comemorou muito a notícia com o seu marido e já iniciaram a compra do enxoval.

Durante quatro meses, ela viveu o grande sonho de sua vida, mas teve um aborto e perdeu o bebê. O que parecia ser o fim para muitas mães, não era para Carol, que seguiu em frente e conseguiu novamente engravidar. Mas no segundo mês de gestação, mais uma perda: Carol enfrentou novamente o aborto espontâneo.

Neste período familiares e amigos foram firmes e pediram para ela não engravidar mais, devido aos abortos que teve e as complicações cirúrgicas tanto no transplante renal, bem como na cirurgia de paratireoide. Seus pais pediram para ela adotar uma criança e desistir de engravidar novamente. Mesmo com toda preocupação da família ela não desistiu. E assim seguiu com fé e muita resiliência.

Após seis meses do segundo aborto, Carol engravidou novamente. E, para não perder a bebê, ela precisou tomar 300 injeções na barriga. No dia 18/10/20 foi o dia mais feliz da vida: o nascimento da Sofia e conheceu, finalmente, o amor mais forte e verdadeiro que sempre desejou na vida.

Depois dos três anos da Sophia, veio ao mundo o pequeno Samuel. E mais uma vez, para segurar a gestação, a Carol precisou tomar 200 injeções na barriga e realizou, pela segunda vez, o sonho de ter os seus filhos nos braços.

Carol tem 39 anos, é casada com Ezequias e mãe de Sophia de quatro anos e Samuel de 1 ano e três meses. Para ela, o fim foi o recomeço. E lembra que, se não fosse a doação de órgãos, não iria sobreviver, devido à insuficiência renal crônica. “Doar órgãos é um ato de amor. Uma família que perdeu seu ente querido e passou por um momento de dor, teve a sensibilidade de pensar no próximo. Precisamos incentivar estas famílias a doarem órgãos para salvar vidas. Neste Dia das Mães, a mensagem que eu quero transmitir para as mulheres que tiveram perdas gestacionais assim como eu é que nunca desista dos sonhos. Sejam fortes, resilientes e tenham fé sempre”, disse Carol.