Estamos oficialmente na reta final de 2025. O que é motivo de festa e celebração, também carrega uma bagagem inesperada: uma dose extra de ansiedade para muita gente. Nesta época, as altas expectativas se misturam com um turbilhão de pressões, fazendo com que os níveis de estresse aumentem. Então, embora seja um período repleto de alegrias, é também quando as emoções ficam mais latentes, criando um cenário perfeito para altos e baixos emocionais.
O fim do ano pode desencadear sentimentos de solidão ou saudade, principalmente para aqueles que enfrentaram perdas ou estão longe de familiares e amigos. Esses sentimentos podem intensificar a complexidade emocional do período, exacerbando a ansiedade. A necessidade de criar momentos sociais perfeitos, seja em festas, eventos ou reuniões familiares, adiciona uma camada extra de estresse. A pressão para que tudo saia perfeito pode ser intensa, e isso se soma às outras fontes de ansiedade já presentes.
Nesta época ocorre um pico nas demandas em todas as áreas das nossas vidas que intensifica as exigências sociais, as metas e os encontros obrigatórios. Assim, há um aumento na demanda psíquica. Além do volume de compromissos, existe o aspecto simbólico: dezembro marca a conclusão de um ciclo. Esse período mobiliza um recolhimento psicológico: é a nossa mente pedindo uma pausa para integrar vivências, abandonar o que não faz mais sentido e se preparar para um novo ciclo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os distúrbios de ansiedade são hoje o grupo de transtornos mentais mais frequente no mundo. A OMS estima que cerca de 4 a 4,4% da população global viva com algum transtorno de ansiedade, o que corresponde a mais de 300 milhões de pessoas, e que esses quadros estão entre as principais causas de sofrimento e incapacidade relacionada à saúde mental.
Agora se olharmos para o Brasil, os números são ainda mais preocupantes. Estudos epidemiológicos baseados nas estatísticas da OMS apontam que o país tem a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo, em torno de 9,3% da população – algo acima de 18 milhões de pessoas. Alguns trabalhos citam que, nas grandes capitais, esse índice é ainda mais alto. E há estimativas de prevalência próxima de 20% na cidade de São Paulo, o que reforça a ideia de que vivemos em um dos contextos urbanos mais ansiosos do planeta.
De acordo com o coordenador do Serviço de Psiquiatria do Hospital Santa Marcelina, Dr. Thiago Rodrigues de Castro, o final do mês de dezembro é um período em que muitos pacientes relatam aumento de cansaço, irritabilidade, sensação de “cabeça cheia” e dificuldade para dormir. Há uma combinação de balanço das metas que não foram cumpridas, cobrança interna, demandas profissionais acumuladas, férias escolares, obrigações familiares e, em muitos casos, questões financeiras.
“Se a pessoa já tem predisposição à ansiedade, esse cenário funciona como um gatilho. Nessa situação não é incomum aparecer sintomas como aperto no peito, preocupação constante, dificuldade de relaxar, sensação de não dar conta de tudo e alterações do sono ficam mais intensos”, explica o Dr. Thiago de Castro.
Do ponto de vista clínico, a OMS descreve os transtornos de ansiedade como quadros marcados por medo e preocupação excessivos, desproporcionais à situação, acompanhados de sintomas físicos (palpitações, sudorese, tremores, sensação de falta de ar) e por um grau de sofrimento que interfere na vida cotidiana como trabalho, estudo, relações familiares e sociais. “Mas importante ressaltar que nem toda ansiedade é doença. Sentir-se apreensivo em momentos de mudança e fechamento de ciclo é esperado. O sinal de alerta é quando isso passa a paralisar ou prejudicar de forma importante o funcionamento da pessoa”, alerta o psiquiatra.
Prevenção e estilo de vida: importante reforçar que o tratamento para ansiedade não se resume à medicação. “O cuidado em saúde mental começa pela escuta. Entender a história daquela pessoa, o contexto em que ela vive, quais pressões está sofrendo e quais recursos de apoio ela tem. A medicação tem um papel fundamental em muitos casos (especialmente nos quadros moderados e graves), mas ela entra dentro de um plano mais amplo, que inclui psicoterapia, ajustes de rotina, fortalecimento de vínculos e estratégias de manejo do estresse”, orienta
Para o psiquiatra do Hospital Santa Marcelina, a ansiedade não se trata de fraqueza individual, mas de uma combinação de fatores externos e internos, e há várias coisas que podem ajudar na construção da resiliência nesse período. “Tentar manter uma rotina mínima de sono mais regular, limitar um pouco o excesso de telas, especialmente à noite. Incluir algum nível de atividade física (mesmo que seja uma caminhada curta), organizar a agenda de forma mais realista, com menos perfeccionismo e, principalmente, aceitar que nem todas as metas serão cumpridas exatamente como foram desenhadas em janeiro”, pontua.
O apoio familiar e da rede próxima faz muita diferença. Dr. Thiago esclarece que, ter com quem dividir preocupações, pedir ajuda prática quando possível e ter espaços de convivência menos centrados em cobrança e mais em vínculo. Em muitos casos, apenas conversar com pessoas de confiança já alivia parte da sobrecarga. “Quando isso não é suficiente e a ansiedade começa a impedir a pessoa de trabalhar, estudar, dormir ou manter relações, é o momento de buscar ajuda profissional. Os transtornos de ansiedade respondem bem a tratamento, combinando psicoterapia, intervenções no estilo de vida e, quando indicado, medicação adequada”, esclarece.
Dicas para lidar com a ansiedade neste fim de ano:
Reserve tempo para atividades relaxantes, como leitura ou meditação
Evite sobrecarregar sua agenda e aprenda a dizer não quando necessário
Estabeleça limites nas redes sociais para evitar comparações prejudiciais
Cultive momentos de gratidão, focando nas coisas positivas
Busque apoio social, compartilhando sentimentos com pessoas que te tragam segurança
Se necessário, considere a ajuda de um profissional de saúde mental
Estabeleça metas realistas para o período
Organize uma lista de tarefas priorizando o que é essencial
Pratique técnicas de respiração profunda para aliviar o estresse
Mantenha uma rotina equilibrada com sono adequado e exercícios.