A Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (SBDCV) destaca que cerca de 70% das pessoas acometidas por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) não conseguem retomar suas atividades profissionais devido às sequelas. Além disso, metade dos pacientes perde autonomia, necessitando de cuidadores para realizar tarefas cotidianas. Embora o AVC ocorra com mais frequência em indivíduos acima dos 60 anos, o número de casos entre jovens tem aumentado, e até mesmo crianças podem ser afetadas. No Dia Mundial do AVC, celebrado em 29 de outubro, é fundamental refletirmos sobre os impactos da doença e as deficiências mais comuns após o seu ocorrido.

A mortalidade por AVC no Brasil aumentou, superando a do infarto. Até agosto de 2024, segundo registros de atestados de óbito, 50.133 brasileiros morreram em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral. Desde 2019, o AVC tem sido a principal causa de morte cardiovascular no país, seguido pelo infarto. O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, ocorre quando os vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, causando a paralisia da área afetada pela falta de circulação sanguínea. A doença atinge principalmente homens com mais de 65 anos e é uma das principais causas de morte, incapacitação e internações no mundo.

Segundo o coordenador da Unidade de AVC do Santa Marcelina Saúde, Dr. Michel Machado, a Instituição recebeu, em 2023, 569 pacientes, uma média de 47 casos por mês em fase aguda de AVC, como é o caso do AVC isquêmico – quando há obstrução de uma artéria e representam cerca de 80% dos casos -, tornando referência em atendimentos de alta complexidade. “A Unidade de AVC do Hospital conta com uma equipe de neurologistas especializados no manejo da doença, além de uma equipe multidisciplinar focada na reabilitação precoce. Um dos principais diferenciais da unidade é contribuir para a redução da incapacidade e da mortalidade desses pacientes”, explica Dr. Michel.

Acidente vascular isquêmico x hemorrágico: o AVC isquêmico é responsável por 80% dos casos de AVC. O entupimento dos vasos cerebrais pode ocorrer devido a uma trombose (formação de placas numa artéria principal do cérebro) ou embolia (quando um trombo ou uma placa de gordura originária de outra parte do corpo se solta e, pela rede sanguínea chega aos vasos cerebrais. “Após o resultado da tomografia computadorizada, os casos de AVC isquêmico são tratados com trombolítico, que age rapidamente dissolvendo o coágulo dentro do vaso sanguíneo, e precisam ser atendidos dentro das primeiras 4h30 do início dos sintomas”, alerta o neurologista.

Já o AVC hemorrágico ocorre quando há o rompimento dos vasos sanguíneos e se dá, na maioria das vezes, no interior do cérebro. Como consequência imediata, há o aumento da pressão intracraniana, que pode resultar em maior dificuldade para a chegada de sangue em outras áreas não afetadas e agravar a lesão. Esse tipo é o mais grave e tem altos índices de mortalidade.

Sinais e diagnóstico: de acordo com o Ministério da Saúde, o AVC é uma doença tempo-dependente; quanto mais rápido o tratamento, maior a chance de recuperação completa. Portanto, é primordial identificar os sinais de alerta para reconhecer a ocorrência da doença. Os sinais de alerta mais comuns do AVC incluem: alterações na fala, dificuldade para entender comandos simples, confusão mental, perda de visão em um ou ambos os olhos, convulsões, perda de força e/ou sensibilidade em um ou ambos os lados do corpo, perda de coordenação ou dificuldade para andar, além de dor de cabeça intensa súbita.

“Em caso de reconhecimento de um ou mais desses sintomas, é importante ligar imediatamente para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU – 192), responsável pela triagem de pacientes com suspeita de AVC, ou se dirigir ao hospital mais próximo. O diagnóstico é realizado por meio de exames de imagem, que permitem identificar a área do cérebro afetada e o tipo de derrame cerebral. A tomografia computadorizada de crânio é o método de imagem mais utilizado na avaliação inicial do AVC agudo, a qual demonstra sinais precoces de isquemia ou hemorragia”, esclarece o neurologista do hospital.

Quanto mais rápido for o diagnóstico e o tratamento do AVC, maiores serão as chances de recuperação completa. “Por isso, é primordial ficar atento aos sinais e sintomas e procurar atendimento médico imediato, especialmente dentro das primeiras 4h30 do início dos sintomas”, orienta o especialista.

Fatores de risco: existem fatores que contribuem para o aparecimento de um AVC, divididos em não modificáveis e modificáveis. Os fatores não modificáveis incluem idade, raça, genética e sexo. Já os fatores de risco modificáveis são: tabagismo, uso excessivo de álcool e drogas, hipertensão arterial, diabetes, níveis elevados de gordura no sangue, excesso de peso e sedentarismo. O controle e o tratamento desses fatores de risco modificáveis são a principal forma de prevenir o AVC. “Os fatores de risco modificáveis podem ser tratados ou acompanhados na própria Unidade Básica de Saúde (UBS), como hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas, enxaqueca, sedentarismo e obesidade. Manter hábitos de vida saudáveis é fundamental para ajudar a prevenir o derrame”, recomenda Dr. Michel.

Tratamento e reabilitação: o tratamento do AVC é realizado em unidades hospitalares que atuam como referência para esse tipo de atendimento, utilizando medicamentos como o trombolítico ou procedimentos como a trombectomia. Pacientes com sintomas sugestivos de AVC devem procurar imediatamente hospitais de urgência, pois quanto mais rápido o tratamento for iniciado, maior a chance de recuperação.

Após a fase aguda e uma vez estabilizado clinicamente, o paciente com AVC já deve iniciar reabilitação nos primeiros dias da hospitalização. Após a alta hospitalar, o paciente pode continuar a reabilitação nos Centros Especializados em Reabilitação (CERs), com acesso por meio de encaminhamento das UBSs. Nos CERs, uma equipe multiprofissional realiza uma avaliação para definir o tratamento mais adequado para cada paciente.

“Além dos CERs, o Santa Marcelina Saúde recebe o apoio das EMADs – um programa do SUS de atenção domiciliar que conta com uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas. Um dos seus objetivos é garantir a continuidade dos cuidados iniciados no hospital, para propiciar o atendimento na própria residência dos pacientes que não conseguem se deslocar até o serviço de saúde e oferecer abordagens diferenciadas para cada caso, além de orientar e auxiliar os familiares nos cuidados com o paciente”, finaliza Dr. Michel.